domingo, 24 de maio de 2015

Arte Conceitual

Toda produção artística acontece a partir de uma ideia, de um conceito. Mas então, qual é a diferença de conceito de arte e arte conceitual? Seria superficial definir a arte conceitual como o tipo de arte que tem como foco principal uma ideia. Então, isso vai de encontro à pergunta: o que é arte?
            A medida que o status do artista foi modificado de artesão para um intelectual, a arte foi ganhando um poder de falar por si. Na arte contemporânea esses valores extremamente relevantes e, na arte conceitual, além de adquirir esse poder de falar por si ela se torna autocrítica.
            O termo arte conceitual foi utilizado pela primeira vez na década de 1960 pelos artistas do grupo Fluxus.  Para ele arte conceitual era o tipo de arte que usava como material seus conceitos, e como os conceitos estão estritamente ligados a linguagem, a arte conceitual é o tipo de arte na qual o material para sua produção é a linguagem. A aparência da obra não é algo relevante, o conceito que ela trás é o mais importante.  O artista aqui assume o papel de crítico de arte, teorizando sobre seus trabalhos e de outros artistas. O artista passa a questionar a natureza da arte e sua forma de materialização.
            A ideia é que a arte conceitual, assim como a maior parte das obras de arte contemporânea, não pode ser totalmente compreendida em um primeiro momento, ela exige um olhar diferenciado, que tenha um certo conhecimento sobre a temática da obra. Exige o olhar e a reflexão do público para se completar. Hoje não cabe a arte dar o status de possuidor a um consumidor, e sim a arte como meio de disseminação de ideias e de interação. O artista não é desconsiderado, porém não tem o mesmo status de criador como nos séculos que passaram, mas como um propositor de ideias que serão acabadas, ou melhor, modificadas e questionadas pelo público que esteja em contato com a mesma.
            A arte contemporânea torna-se uma arte em movimento, que não está ali passiva a apreciação do público que frequenta determinado museu, e sim um objeto artístico que vai de encontro ao público, em museus, galerias e até mesmo na rua, em grandes espaços de circulação social que não necessariamente seja “próprio” para a apreciação de uma obra. A arte vem a intervir no olhar do espectador tendo ele uma visão crítica de arte ou não, fazendo quem quer que a encontre pensar a respeito.
            O sistema da arte gera ideias que devem ser consumidas pelo público, de forma que se cria um mercado simbólico. Nesse mercado simbólico, surgem várias possibilidades e formas de produção artística, abrindo várias maneiras de se interpretar o que o artista quis expor em sua obra.
            A obra que hoje não é mais passiva somente de contemplação necessita do público para existir como objeto de arte, pois é na relação com o público, o seu envolvimento com a obra e sua interação com a ideia proposta que faz com que aquilo seja considerado arte.
            John Cage foi um músico que trabalhou com os conceitos desse tipo de arte para compor sua obra 4’33’’. Essa obra foi composta para ser tocada por qualquer instrumento musical. A partitura da obra contém três movimentos, onde os músicos não devem executar nenhuma nota em seus instrumentos, mesmo estando em posição de execução. Uma reprodução da obra pode ser assistida nesse vídeo
            Outro exemplo é o artista brasileiro Cildo Meireles em sua obra ‘Inserções em Circuitos Ideológicos’ (1970). Nessa obra nasceram dois projetos: o projeto “Coca-cola” e o projeto “Cédulas”. O artista imprimia textos nas garrafas de Coca-cola retornáveis e as devolvia para circulação. A ideia veio a partir das correntes de santos que são comuns serem compartilhadas na sociedade, e também as garrafas de náufragos jogadas ao mar. Nessa obra o artista iniciou com o seguinte texto: “1) existem na sociedade deter­minados mecanismos de circulação (circuitos): 2) esses circuitos veiculam evidentemente a ideologia do produtor, mas ao mesmo tempo são passíveis de receber inserções na sua circulação: 3) e isso ocorre sempre que as pessoas as deflagrem.”




Referências

ANDREI, Christiane de Brito. A Arte Conceitual e o Espectador. 2008. 92p. Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio deJaneiro, Instituto de Artes. 2008. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp080927.pdf Acesso em: 20/04/2015.

VAZ, Adriana. Instalações e Interatividade, porta aberta ao público. In: CUNHA, D. S.S. Arte, Atualidade e Ensino. Unicentro, Guarapuava, 2013.

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segunda-feira, 11 de maio de 2015

O SOM DO RUÍDO




    O Filme "O Som do Ruído" de 2010, Amadeus Warnebrig, um policial sem o menor ouvido musical, vem de uma família respeitada no mundo da música. Ele terá que perseguir e pegar um grupo de anarquistas que espalham o terror na cidade usando tons musicais. 
O tema central do filme é mostrar o potencial musical de objetos comuns do dia-a-dia tidos geralmente como inanimados, mudo. Ao longo do filme podemos ver performances de músicos que procuram extrair ritmos, percussões e harmonias de situações e de instrumentos inusitados que se encontram em hospitais, construções, indústrias, escritórios, entre outros.
       Como forma de material pedagógico, vale pensar:


  • É possível trabalhar o filme em sala de aula ?
  • Quais conteúdos podem ser abordados ?
  • Que metodologias ?


Para mais informações sobre o filme:


http://filmow.com/o-som-do-ruido-t53641/

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Arte Sonora



                 A partir da arte moderna a fronteira entre as linguagens da arte foi alterada, gerando uma hibridização delas nas novas produções de arte. Na fronteira entre a Música e as Artes Visuais se localiza uma nova manifestação de arte que vem a ser chamada de Arte Sonora. Nessa manifestação acontece uma mistura dos elementos som, tempo, espaço e imagem.
            Arte Sonora transcende a ideia de organizar elementos musicais em um objeto artístico, pois nela são inclusos elementos extra musicais que não são utilizados com frequência na produção de música tradicional, além de que a visualidade, a performance, a espacialidade e a plasticidade da obra são levadas em consideração pelos artistas desse campo. Não há uma forma exata de delimitar o que é Arte Sonora, porém ao decorrer da produção dessa nova manifestação artística foram surgindo categorias – sondscupture, soundesign, soundscape e instalações sonoras.

  •   Soundscupture – existem duas maneiras de se produzir uma escultura sonora:

- Pode-se produzir uma escultura que por si só produza algum tipo de som;
Esse tipo de obra precisa de uma ação para que ela funcione. Nesse caso a ação pode ser de ação natural como o vento, por exemplo, ou por interação com o espectador. Os artistas Rebekah Wostrel e Ted Coffee trabalham com esse tipo de escultura sonora como pode ser visto nesse vídeo da obra  Ping


                        Obra Ping dos artistas Rebekah Woltrel e Ted Coffee



- Pode-se construir através de um som, que pela sua vibração, amplitude e frequência manipulados podem dar origem a um elemento escultórico.
O projeto Bring Color to Life, proposto pela agência publicitária Dentsu em parceria com o fotógrafo Linden Gledhill. As esculturas sonoras foram geradas a partir de um alto-falante/caixa de som, onde foi colocada uma placa fina de plástico e sobre ela gotas de tinta. A media que a frequência, a amplitude e  a frequência foram alteradas, se produziu várias formas com a tinta que foram registradas em fotografia. Seguem imagens dessa produção: 






  •   Soundesign: ou desenho de som é processo técnico e criativo de manipulação dos sons de um filme, uma peça de teatro, de um concerto ou gravação de música e outros projetos multimídias. Um exemplo dessa área é o cineasta brasileiro Cao Guimarães, onde em sua obra História do Não Ver era sequestrado por pessoas quando estava vendado, o artista registrava esses sequestros através de uma câmera e então só restavam sons e imagens distorcidas do processo. Essa obra gerou um livro, que é descrito pelo artista nesse vídeo. E foi feito um vídeo pelo artista com as imagens e sons desses sequestros que resultou na obra O Grivo .

  •   Soundscape: ou paisagem sonora, é o termo criado por M. Schafer são os sons que acontecem, são típicos e característicos de um determinado local, e que segundo Schafer estão passando despercebidos pelas pessoas. M. Schafer juntamente com outros pesquisadores da Simon Fraser University no Canadá formaram o Soundscape World Project com a intenção de estudar um estudo interdisciplinar a respeito dos ambientes acústicos, melhorar e modificar esses ambientes, educar estudantes, pesquisadores e o público em geral, e publicar materiais que servissem como guia para estudos futuros. 

  •   Instalações Sonoras: surgiu a partir das instalações artísticas que são produções voltadas para uma experiência sensorial mais completa do público e que mexem com o sensorial do público. . Aos poucos elementos sonoros foram sendo inseridos na produção de arte, a medida em que os artistas propuseram o uso mais abrangente do espaço, do contexto e do tempo nas instalações. Na 30° Bienal de Arte Contemporânea de São Paulo, a artista americana MaryanneAmacher trouxe em suas obras Microphoneistallation uma exploração a percepção do som no espaço, no tempo e no corpo do espectador. 
  • Microphoneistallation - Maryanne Amacher

            Em muitas obras de Arte Sonora a interação com o público é o que faz a obra acontecer. Além disso a iluminação e o próprio espaço passam a ser uma parte importante integrante da obra. O espaço deixa de ser meramente o lugar que a obra vai habitar durante a exposição, passando a dialogar com a obra.
            O tempo na Arte Sonora também é algo que é alterado, pois não existe um começo, meio e fim como nas salas de concerto. Isso acontece conforme cada espectador, conforme o tempo que ele dedica para apreciar a determinada obra. Também são muitas as produções de Arte sonora que dialogam com as novas tecnologias como suporte para a produção da obra.

Fonte:
CAMPESATO, Lílian. Arte Sonora: uma metamorfose das Musas. 2007. 173 f. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2007.
CAMPESATO, Lílian; IAZZETTA, Fernando. Som, Espaço e Tempo na arte sonora. XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM). Brasília – 2006. 

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