Toda
produção artística acontece a partir de uma ideia, de um conceito. Mas então,
qual é a diferença de conceito de arte e arte conceitual? Seria superficial
definir a arte conceitual como o tipo de arte que tem como foco principal uma
ideia. Então, isso vai de encontro à pergunta: o que é arte?
A medida que o status do artista foi
modificado de artesão para um intelectual, a arte foi ganhando um poder de
falar por si. Na arte contemporânea esses valores extremamente relevantes e, na
arte conceitual, além de adquirir esse poder de falar por si ela se torna
autocrítica.
O termo arte conceitual foi
utilizado pela primeira vez na década de 1960 pelos artistas do grupo Fluxus. Para ele arte conceitual era o tipo de arte
que usava como material seus conceitos, e como os conceitos estão estritamente
ligados a linguagem, a arte conceitual é o tipo de arte na qual o material para
sua produção é a linguagem. A aparência da obra não é algo relevante, o
conceito que ela trás é o mais importante.
O artista aqui assume o papel de crítico de arte, teorizando sobre seus
trabalhos e de outros artistas. O artista passa a questionar a natureza da arte
e sua forma de materialização.
A ideia é que a arte conceitual, assim como a maior parte
das obras de arte contemporânea, não pode ser totalmente compreendida em um
primeiro momento, ela exige um olhar diferenciado, que tenha um certo
conhecimento sobre a temática da obra. Exige o olhar e a reflexão do público
para se completar. Hoje não cabe a arte dar o status de possuidor a um
consumidor, e sim a arte como meio de disseminação de ideias e de interação. O
artista não é desconsiderado, porém não tem o mesmo status de criador como nos
séculos que passaram, mas como um propositor de ideias que serão acabadas, ou
melhor, modificadas e questionadas pelo público que esteja em contato com a
mesma.
A arte contemporânea torna-se uma
arte em movimento, que não está ali passiva a apreciação do público que
frequenta determinado museu, e sim um objeto artístico que vai de encontro ao
público, em museus, galerias e até mesmo na rua, em grandes espaços de
circulação social que não necessariamente seja “próprio” para a apreciação de
uma obra. A arte vem a intervir no olhar do espectador tendo ele uma visão
crítica de arte ou não, fazendo quem quer que a encontre pensar a respeito.
O sistema da arte gera ideias que devem ser consumidas
pelo público, de forma que se cria um mercado simbólico. Nesse mercado
simbólico, surgem várias possibilidades e formas de produção artística, abrindo
várias maneiras de se interpretar o que o artista quis expor em sua obra.
A obra que hoje não é mais passiva somente de
contemplação necessita do público para existir como objeto de arte, pois é na
relação com o público, o seu envolvimento com a obra e sua interação com a
ideia proposta que faz com que aquilo seja considerado arte.
John Cage foi um músico que
trabalhou com os conceitos desse tipo de arte para compor sua obra 4’33’’. Essa
obra foi composta para ser tocada por qualquer instrumento musical. A partitura
da obra contém três movimentos, onde os músicos não devem executar nenhuma nota
em seus instrumentos, mesmo estando em posição de execução. Uma reprodução da obra pode ser assistida nesse vídeo.
Outro exemplo é o artista brasileiro
Cildo Meireles em sua obra ‘Inserções em Circuitos Ideológicos’ (1970). Nessa obra
nasceram dois projetos: o projeto “Coca-cola” e o projeto “Cédulas”. O artista
imprimia textos nas garrafas de Coca-cola retornáveis e as devolvia para
circulação. A ideia veio a partir das correntes de santos que são comuns serem
compartilhadas na sociedade, e também as garrafas de náufragos jogadas ao mar. Nessa
obra o artista iniciou com o seguinte texto: “1) existem na sociedade determinados
mecanismos de circulação (circuitos): 2) esses circuitos veiculam evidentemente
a ideologia do produtor, mas ao mesmo tempo são passíveis de receber inserções
na sua circulação: 3) e isso ocorre sempre que as pessoas as deflagrem.”
ANDREI, Christiane de Brito. A Arte Conceitual e o Espectador. 2008.
92p. Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio deJaneiro,
Instituto de Artes. 2008. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp080927.pdf Acesso em:
20/04/2015.
VAZ, Adriana. Instalações e
Interatividade, porta aberta ao público. In: CUNHA, D. S.S. Arte, Atualidade e
Ensino. Unicentro, Guarapuava,
2013.
Sites
Gostaria de compartilhar aqui um artigo que fala um pouco mais sobre arte arte conceitual, assim como fala também sobre o caminho da arte conceitual aqui no brasil, são citados também alguns artistas brasileiros que servem como referencial sobre a arte conceitual. O artigo fala também sobre os desdobramentos que a arte conceitual apresentou no brasil durante o período de ditadura militar. Vale a pena conferir
ResponderExcluirLink
http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/tematica/article/view/22143
Gostei muito do texto. Acho interessante como a arte conceitual possui um caráter existencialista (não sendo, desta maneira, um tipo de arte que trabalha com uma poética, mas com o motivo das próprias existirem), e assim exigindo um olhar prestativo/diferenciado por parte do expectador. Fiquei curiosa e procurei sobre o grupo Fluxus, que, realmente, fora de suma importância para os caminhos que a arte conceitual e contemporânea vieram a trilhar (aqui tem um texto bem objetivo sobre o grupo http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo5/fluxus.html). O Fluxus foi criado oficialmente em 1961 em Wiesbaden (Alemanha) durante o Festival Internacional de Música, integrando cineastas, músicos e atores da época. A temática do grupo foi grandemente influenciada pelo Dadaísmo e ideais de Duchamp (com a sua "anti-arte"), o que levou os artistas à supervalorização do cotidiano (como em objetos, fenômenos, sons), adesão à valores anárquicos e a rejeição do "elitismo" presente na restrição proposta pelas galerias. Muitos artistas começaram suas ilustres carreiras através do Fluxus - inclusive o próprio John Cage -, e eu gostaria de compartilhar uma performance do grupo de uma obra da Yoko Ono (famosa por ser esposa do ex-Beatle John Lennon, a japonesa já pertencia ao grupo antes de conhecê-lo); a obra se chama "Lighting Peace", de 1955. É uma performance na qual convida os espectadores a observarem a consumação de um palito de fósforo pelo fogo, instiguindo-os a se relacionar esteticamente com fenômenos corriqueiros e banalizados pela rotina: https://www.youtube.com/watch?v=ZxhrVKPtgu4
ResponderExcluirA arte conceitual se utiliza do cotidiano e traz um novo olhar para o que é considerado banal aos olhos da sociedade...
ResponderExcluirLendo o post me lembrei também da importante mudança no processo criativo... antes, chamado vertical, trazia a obra pronta, apenas para ser contemplada pelo público. A adesão do processo horizontal trouxe obras inacabadas que necessitam da interação e considerações do público. Essa mudança no processo acaba trazendo uma arte com valor crítico e deixa de lado a preocupação excessiva com a estética. A prioridade é trazer um conceito, uma ideia, que ao atingir o publico provoque no minimo uma reflexão, ou até mesmo, traga uma mudança na sociedade.
Deixo o link de mais um vídeo falando sobre o assunto:
https://www.youtube.com/watch?v=hMW2E1-5JB4
Como falar de arte conceitual e não falar de Marcel Duchamp? um dos artistas mais influentes desse, não tão novo, ramo artístico, inspirado nos ready-mades do artista, que retirava objetos do cotidiano das pessoas e os incluía em seus processos criativos, dando outro fim ao objeto.
ResponderExcluirLi em vários blogs que uma das primeiras publicações sobre arte conceitual foi feita em uma revista inglesa chamada Art Language, em que existia uma coluna chamada "revista de arte conceitual", porém não consigo não encontrar mais nenhuma informação sobre ela, alguém já ouviu falar ou tem algo sobre ela?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPara quem quer se aprofundar mais sobre o assunto eu recomendo o livro de Cristina Freire - Arte conceitual. Sendo ele uma leitura de fácil entendimento e rápida.
ResponderExcluirhttps://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=rgZ_pzdQ5T4C&oi=fnd&pg=PA7&dq=arte+conceitual&ots=zZi-r5yJ1d&sig=5p8Z_65Arc4YQtS2ulugknAJpmg#v=onepage&q=arte%20conceitual&f=false
A exposição "CRASH" de Regina Silveira é uma importante referência de artista conceitual brasileira, seu trabalho possui qualidade poética e estética, pela forma que a mesma representa e expõe os objetos, dando sentido conotativo a sua obra.
ResponderExcluirA exposição está no MON no período de 12 de março a 28 de junho de 2015.
http://www.museuoscarniemeyer.org.br/exposicoes/exposicoes/crash
Para acrescentar mais conteúdos a respeito deste assunto, sabemos que dentro da Arte Conceitual há várias vertentes artísticas, uma dela é a pop art, o artista mais conhecido deste período é Andy Warhol.
ResponderExcluirA Revista Cielo traz um artigo sobre Andy Wrhol e como ele buscava se expressar em uma época de muitas mudanças no mundo e também dentro da Arte
http://www.google.de/imgres?imgurl=http%3A%2F%2Fwww.scielo.br%2Fimg%2Frevistas%2Fars%2Fv2n4%2F08f01.jpg&imgrefurl=http%3A%2F%2Fwww.scielo.br%2Fscielo.php%3Fpid%3DS1678-53202004000400008%26script%3Dsci_arttext&h=860&w=580&tbnid=1gzP4KjpvMkMzM%3A&zoom=1&docid=uTwIpTrfBaCP5M&ei=A8B-VZe8DdSNsQS4x4rgAQ&tbm=isch&iact=rc&uact=3&dur=1266&page=1&start=0&ndsp=24&ved=0CC8QrQMwBWoVChMI18mE69SRxgIV1EaMCh24owIc