FAZENDO MÚSICA COM TUDO: UM ESPAÇO PARA APRENDIZAGENS
(texto aprovado na SIEPE)
Maurício Strapação (PIBID/ARTE - UNICENTRO), Janete Kosniski Montani (PIBID - Colégio Estadual Ana Vanda Bassara), Marinês Carneiro Rocha (PIBID/ARTE - UNICENTRO), Vinícius Stein (PIBID/ARTE - UNICENTRO), Daiane Solange Stoeberl da Cunha (UNICENTRO - Orientadora), e-mail: daí_flc@yahoo.com.br
Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de Arte-Educação, Guarapuava, Paraná.
Palavras-chave: Arte, Ensino, Interdisciplinaridade, Práticas pedagógicas.
Resumo: Apresentamos o planejamento e resultados da oficina Fazendo música com tudo, ofertada aos alunos do Colégio Estadual Ana Vanda Bassara, por acadêmicos de Arte-Educação bolsistas do PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. A oficina foi elaborada com o objetivo de proporcionar a ampliação e trocas de repertório cultural e artístico entre participantes da oficina, através do contato com diferentes formas do fazer musical.
Introdução
O PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, foi criado com a finalidade de aprimorar a formação de acadêmicos em licenciatura e possibilitar sua participação no cotidiano escolar, criando ainda na graduação o vínculo com o exercício da docência. O PIBID/Arte, além de atender aos objetivos do programa institucional, tem objetivos específicos referentes à formação do Arte-Educador. Dentre eles, destacamos nesse texto, a ação extensionista oferecida aos alunos do Colégio Estadual Ana Vanda Bassara através da oficina Fazendo música com tudo.
A oficina teve como ponto de partida a pesquisa diagnóstica aplicada por meio de um questionário respondido por alunos do Colégio citado, em dezembro de 2010, que buscou conhecer seus anseios, gostos e carências em relação aos conteúdos da arte em suas manifestações: artes visuais, música, teatro e dança.
Pela análise dos questionários percebemos que a preferência dos alunos estava voltada para a área da música, não só pela afinidade que demonstraram, mas por ser, segundo os dados, a área que têm menos contato dentro da escola.
Partir do que os alunos desejam foi um desafio que exigiu cuidados. O processo iniciou na investigação do conhecimento prévio dos alunos em música, levando em consideração a preferência por estilos e habilidades musicais.
Segundo FREIRE (2007, p. 29), “[...] pensar certo, do ponto de vista do professor, tanto implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessária superação quanto o respeito e o estimulo à capacidade criadora do educando [...]”
Percebemos que as expectativas dos alunos em relação à oficina era principalmente na aprendizagem instrumental, o que nos deu abertura para iniciarmos expondo a diferença entre os instrumentos de corda, sopro, eletrônicos, percussão e alternativos e, posteriormente investigarmos melhor os dois últimos.
Buscamos estabelecer um ambiente de trocas entendendo a diversidade da música em nosso cotidiano. Nesse sentido a pesquisa é de suma importância tanto para a aprendizagem dos alunos quanto para nós enquanto professores em formação. O relato de uma integrante do grupo ilustra a situação: “Precisei pesquisar tudo o que teria de ensinar a eles, pois para mim fazer música com instrumentos convencionais já não é muito fácil, dirá então com sucatas.” (Marinês. Integrante do grupo). A inspiração para realizar essa tarefa vem de FREIRE (2007, p. 31).
Não há para mim, na diferença e na “distância” entre a ingenuidade e a criticidade, entre o saber de pura experiência feito e o que resulta dos procedimentos metodicamente rigorosos, uma ruptura, mas uma superação.
Material e Métodos
O desenvolvimento desta ação caracteriza-se como pesquisa, ensino e extensão, pois atuamos na educação básica estendendo a ação do ensino superior, refletindo e analisando cada etapa, a fim de qualificar nossa formação docente. Para tanto, o com enfoque qualitativo e a inserção na escola caracteriza a pesquisa como participante.
Primeiramente, através de pesquisa bibliográfica levantamos apontamentos relativos à correntes pedagógicas e temáticas a serem desenvolvidas. Após estruturarmos os planos de ensino e em seguida, aplicamos a um grupo de alunos do Colégio Estadual Ana Vanda Bassara.
Resultados e Discussão
No desenvolvimento da pesquisa optamos em organizar uma oficina através de um projeto de trabalho. Pensar projetos de trabalho, de acordo com Martins (1998), proporciona ao grupo a aprendizagem e o conhecimento através de situações nas quais escolher, propor, opinar, discutir, decidir e avaliar são habilidades desenvolvidas no decorrer do processo e transformadas pelos alunos e professor. Ainda segundo a autora, essa forma de trabalho carrega uma intencionalidade que precisa ser continuamente avaliada e replanejada, “[...] que envolve a investigação do professor, atento ao seu grupo e ao conteúdo que quer ensinar”. (MARTINS, 1998, p.159).
Neste sentido, organizamos as linhas que orientariam o projeto em três blocos/módulos que proporcionassem aos oficinandos o contato com diferentes formas do fazer musical.
O primeiro bloco, “Fazendo música com instrumentos”, coordenado pelo bolsista Maurício Strapação, foi elaborado tendo como referência o Sistema Orff/Wuytack, que tem como propósito apresentar a música aos educandos através de três formas de expressão: verbal, musical e corporal. Para tanto, utilizamos instrumentos convencionais de altura definida – xilofones, metalofones, violão – e de altura indefinida – cocos, xequerês, pandeiro, bongô –. O sistema de notação tradicional foi apresentado aos alunos e serviu como referência para o encaminhamento das aulas.
Os alunos responderam bem as propostas dirigidas. Percebemos que iniciar com esse encaminhamento despertou o interesse dos oficinandos pela novidade que o contato com os instrumentos proporcionou. Durante três encontros, de duas horas cada, os alunos conheceram e experimentaram os instrumentos, executando canções, tendo como referência as partituras tradicionais e prática musical em conjunto.
No segundo bloco, “Fazendo música com sucata”, coordenado pela pibidiana Marines Carneiro Rocha, o foco foi a construção e produção de música com instrumentos não convencionais produzidos com sucata. A partir das produções dos grupos Stomp, Uakti e Patubatê, mostramos que tonéis de ferro, baldes de plástico, escapamentos de automóveis, chapas de zinco, podem ser usados na construção de instrumentos com sonoridades tão interessantes quanto os industrializados.
Nessa etapa percebemos que os alunos relacionavam seus conhecimentos com os já adquiridos bloco anterior. A cada novo conteúdo apresentado relatavam semelhanças entre instrumentos anteriormente utilizados.
Com chapinhas de alumínio os alunos construíram rocalhos. Com tamboretes de água, barricas papelão, canos de PVC, ganzás feitos com copos de iogurte, montamos uma pequena escola de samba.
Além do samba outro ritmo explorado foi o baião, tocado com cabos de vassoura, colheres, tamboretes de água e barricas de papelão.
Vinícius Stein, coordenador do último bloco, “Fazendo música com o ambiente” mostrou a possibilidade de compor mesmo sem instrumentos, tendo como referência os sons do espaço, como carteiras, janelas, cortinas, porta, lousa, etc. Nesse bloco a escuta foi o fundamental, segundo Granja (2002, p. 67) “[...] vivemos num mundo de muita música e pouca escuta.” Justificando assim o encaminhamento que foi dado. Os alunos compreenderam a possibilidade de fazer música com os sons que estão presentes no cotidiano.
Durante o desenvolvimento do trabalho, entendemos a oficina enquanto espaço de aprendizagens percebendo o valor das trocas de conhecimento. O contato com alunos nos ajudou a (re)pensar nossa postura enquanto docentes em formação em relação às escolhas metodológicas e conceituais.
Conclusões
De acordo com Chaves (2003) o aluno de graduação vive a um só tempo uma experiência de ensino, como processo de formação profissional, de pesquisa, como investigação sobre a prática docente, e de extensão à medida que está intervindo sobre uma situação social concreta.
Segundo Freire (2007, p.29), “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses fazeres se encontram um no corpo do outro.” Desta forma entendemos que todo professor deve ser pesquisador, pois sem pesquisa, planejamento e replanejamento das ações, não é possível manter a qualidade do ensino e aprendizagem.
Neste aspecto, as ações desenvolvidas pelo PIBID/Arte envolvem o fazer docente em arte em seus aspectos teórico e metodológico. Tanto a inserção dos acadêmicos no ambiente escolar, quanto a investigação sobre o ensino de arte dentro da escola, permite a reflexão crítica sobre a prática docente dentro e fora da sala de aula, o repensar sobre os ranços educacionais, a análise da ação discente, a experimentação de metodologias, etc. Desta maneira, é possível pensar em uma formação para a práxis educacional.
Referências
CHAVES, S. Indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão: uma experiência na formação, s/l, anais da ANPED, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia saberes necessários à prática educativa. Editora Paz e Terra. São Paulo. 2007.
GRANJA, Carlos Eduardo de Souza Campos. Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação. São Paulo: Escritura Editora, 2006.
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Terezinha Telles M. Didática do ensino de arte: a língua do mundo, poetizar e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998
WUYTACK, J. PALHEIROS, G. B. Audição Musical Ativa, Livro do Professor. Associação Wuytack de Pedagogia Musical. Porto: 1995
Acompanhar o trabalho de vcs e perceber suas experiências e crescimento torna minha pratica docente mais feliz.
ResponderExcluirGostei muito da proposta, espero que após o pibid e a formatura de vcs, praticas cOmo esta sejam realizadas por vcs e Mr. Façam saber, pois ficareei mais feliz ainda.
Tenho aprendido que ser professor ~e aprender muito mais que ensinar!!
Prof. Daiane