UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE – UNICENTRO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE GUARAPUAVA
DEPARTAMENTO DE ARTE-EDUCAÇÃO
2011
Oficina Jogos Musicais/Teatrais
Acadêmicas: Caliandra Rosa da Silva
Rafaella Fritz
O presente relatório tem como objetivo descrever a oficina de Jogos Musicais e Teatrais realizada no Colégio Manoel Ribas, como atividade extracurricular a oficina foi aplicada a uma turma de 2º ano do Ensino Médio durante a disciplina de Arte com a presença da professora Thalita Souza, teve a duração de um mês, resultando em 18 encontros. Buscando refletir sobre a prática docente em seus variados aspectos, bem como metodologias utilizadas. Caracterizada como pesquisa participante, feita através de observações, anotações e registros visuais.
Para reaplicar a oficina Jogos Musicais/Teatrais que aconteceu no 2º Ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Manoel Ribas, tivemos que repensar as atividades já que agora os encontros não teria mais caráter de oficina e sim de aulas regulares dentro da disciplina de arte. Visto também que o tempo foi reduzido condensamos as propostas com a finalidade de dar mais importância àquelas que trabalham a introdução à música contemporânea e à utilização dos jogos trabalhando as características do som, baseados nas propostas de jogos de Viola Spolin e a associação das linguagens através de jogos de improvisação de Koellreutter.
O jogo estimula vitalidade, despertando a pessoa como um todo - mente e corpo, inteligência e criatividade, espontaneidade e intuição - quando todos, professor e alunos unidos estão atentos para o momento presente.”(VIOLA, 2010, p. 30)
Após a observação da turma, que se mostrou participativa em alguns momentos, mas com pouca profundidade em suas reflexões, pensamos em um primeiro encontro de aproximação dos alunos ”se o professor conhece a realidade de seus alunos, certamente terá mais subsídios para fazer seus projetos e planos de aulas. (Silva 2007, p. 33), também sondamos suas expectativas, seus gostos e anseios.
Quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e com o seu trabalho pode criar um mundo próprio: seu e suas circunstâncias (FREIRE, 1989, p.9).
Passado esse momento de aproximação, iniciamos o nosso segundo encontro sondando os conhecimentos que os alunos possuíam a respeito do som, ruído e silêncio, exemplificando e aplicando em relação à música. Alguns alunos logo se mostraram resistentes à música contemporânea, criando na sala uma discussão a respeito, outros alunos também opinavam, ao longo da aula chegamos a conclusões para além das questões de juízo de gosto. Por se tratar de alunos do ensino médio é profundamente normal para reflexão de todos as discussões tornando mais ricas as nossas experiências assim como as dos alunos.
Após assistirmos alguns vídeos do Stomp, Barbatuques e Uakti surgem mais momentos de discussões, solicitamos, ainda, que eles observassem nos vídeos quais eram as fontes sonoras, identificando os materiais utilizados pelos grupos. Muitas vezes os alunos não conseguem deixar de lado a preferência pelo tradicional, e as discussões foram persistindo, sentimos a necessidade de mostrar o vídeo “Isto é arte” [1], palestra onde Celso Favaretto traz questões sobre arte contemporânea referindo-se as produções artísticas modernistas e contemporâneas, chamando-nos a atenção que nossa concepção de arte está profundamente ligada a concepção de obra prima da tradição clássica.
Na prática seguinte foi proposto aos alunos explorar sons da sala, usando todos os espaços e todos os materiais e objetos disponíveis, contudo os alunos resolvem de maneira mais simples do que a necessária. Sem ao menos levantar do lugar procuraram sons “inéditos” que mais tarde seria apresentado para toda a turma.
A necessidade de organizar signos geradores de formas, de pesquisar e experimentar materiais sonoros, a vivência do silêncio e das características do som, da relação entre a duração da improvisação e o interesse provocado no ouvinte, do contraste entre elementos de redundância e de informação, de um novo conceito de tempo, dentre outros aspectos, podem ser trabalhados por meio da improvisação em contextos que devem valorizar também a reflexão do fazer.(BRITO, 2001, p.92)
A proposta se estendeu para um próximo dia. Neste os alunos estavam mais abertos, cada aluno mostrou os três sons que encontraram na ultima aula, mostraram para a turma. Em grupos foram orientados a construir símbolos visuais representando cada som e em seguida partituras alternativas, em uma composição em conjunto.
A notação musical consiste em dois elementos: o gráfico e o simbólico... A diferença entre notações simbólica e gráfica é que a primeira nos dá uma informação mais precisa enquanto a segunda indica a forma geral da peça... a medida que as tarefas se tornam mais elaboradas, chega o momento em que a escrita se torna inevitável, e então deixo que se desenvolvam a sua própria, utilizando os meios que quiserem. (SCHAFER, 1991).
O ensaio demorou bastante, aproximadamente 35 min parecia que os alunos queriam fazer uma apresentação como a dos vídeos, se mostraram envolvidos na atividade. Alguns alunos resolveram mais rapidamente e todos apresentaram na aula seguinte, foi muito bom, registramos tudo em vídeo.
Após essa etapa de contato e exploração com novas formas de produção musical, passamos para a construção das cenas trabalhando as características do som. (timbre, altura, intensidade e duração)
Começamos com a duração e o timbre. Segundo Schafer(1991), o timbre traz a cor da individualidade à música. Sem ele tudo é uniforme e invariavelmente cinza, como a palidez de um moribundo. Se nós tocarmos a mesma nota (mesma freqüência) com a mesma intensidade, em um piano e em um violino, notamos claramente a diferença. Portanto, o timbre nos permite reconhecer a fonte geradora do som. Através do reconhecimento da voz dos colegas, um grupo saía da sala enquanto, escolhíamos outros alunos para emitir um som com sua voz, a finalidade era descobrir quem estava falando. Mas foi difícil, os alunos não queriam emitir o som, só aqueles mais acostumados a conversar bastante aceitavam, aos pouco outros foram se inscrevendo. Utilizamos também objetos da sala, e instrumentos convencionais.
Depois trabalhamos a altura e intensidade os alunos deveriam criar cenas, onde seus personagens teriam que falar em alturas diferentes, de acordo com o lugar em que estavam. Foi uma das melhores aulas em relação à participação dos alunos, aqueles alunos que em geral ficavam meio envergonhados participaram abertamente das cenas. Enquanto os alunos preparavam as cenas recebiam nossa orientação e tiravam as dúvidas. Para ensaiar se espalharam pelo colégio. Apresentaram e tudo foi registrado em vídeo.
A mesma cena agora na atividade da duração teria que ser repetida, os alunos escolhiam uma emoção para dar a cada personagem, assim a característica do som intensidade era evidenciada através da cena. Um grupo de meninas queria apresentar duas cenas porque haviam gostado muito da atividade. Todos apresentaram suas cenas, para a turma toda.
A duração foi um pouco mais difícil, os alunos são extremamente resistentes às práticas onde o corpo é mais evidenciado. Experimentamos corporalmente os sons, em circulo uma pessoa iniciava o som e a próxima deveria fazer um movimento corporal que correspondesse a esse som, os alunos se movimentavam o mínimo possível, depois de repetirmos várias vezes a atividade, é que a criatividade surgiu de forma mais natural. Assim se o som era curto o movimento do corpo deveria corresponder com movimentos curtos, ou longos, fortes, fracos, etc..
Em nosso último encontro, fizemos uma série de jogos de improvisação, aqui os alunos já estavam bem familiarizados com as práticas e trabalharam muito bem, participaram ativamente das cenas, utilizamos diversos objetos trazidos também pelos alunos. Baseamos nossa proposta na frase "[...]há muitos objetivos num só objeto" (BRECHT in KOUDELA, 1991, p.86) um aluno de cada vez iniciava uma cena, depois de escolher um objeto e daria a ele uma função diferente da que possuía comumente, após entendida a proposta, modificamos fazendo com que dois ou mais já iniciassem na cena com seu respectivo objeto e todos deveriam improvisar interagindo um com o outro. Sabemos que todas as pessoas são capazes de atuar e todas as pessoas são capazes de improvisar. As pessoas que desejarem são capazes de jogar e aprender a ter valor no palco. (SPOLIN, 2005)
Durante o decorrer das aulas procuramos sempre nos utilizar do cotidiano do aluno, trazendo questões do seu dia-a-dia. Vimos também que os alunos trazem suas vivências para a cena, produzindo diálogos e interagindo com os demais, através de suas experiências.
Uma experiência ação da arte e sua diversidade pode levar a uma mutação na sensibilidade que faz com que a gente surpreenda significados onde normalmente só se vê repetição. Toda a arte no fundo é simbólica, gera simbolismo de vida. Esses simbolismos nos permitem ir no cotidiano e viver nossas próprias experiências de maneira diversificada. (FAVERETO, 2000)
As práticas eram desenvolvidas coletivamente, não levamos respostas prontas, segundo SCHAFER(1991) todo professor deve se permitir ensinar diferente, fazendo de uma classe um lugar de aprendizagem, de experiências e descobertas. Um local totalmente criativo, onde não haja respostas pré-estabelecidas, onde todos solucionem os problemas. Onde o professor lance questões iniciais e depois torne-se um aluno como os demais da turma.
Referências:
BOAL, Augusto, 1931. Jogos para atores e não atores /Augusto Boal 10ª edição ver. E ampliada - Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2007
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: o humano como objetivo da educacao musical. Sao Paulo: Peiropolis, 2001
FAVARETTO, Celso. Isto é Arte? Ação Educacional Itaú Cultural, 2000 [vídeo].
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.
______. Professor sim, Tia não: Cartas de quem ousa ensinar. São Paulo:
Olho D'agua, 1997.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Brecht: um jogo de aprendizagem. São Paulo: Perspectiva, 1991.
SILVA, Daniela Regina da. Psicologia da Educação e Aprendizagem. Associação Educacional Leonardo da Vinci (ASSELVI). – Indaial: Ed. ASSELVI, 2006.
SPOLIN, Viola. Jogos teatrais para a sala de aula: um manual para o professor/ Viola Spolin; [tradução Ingrid Dormien Koudela] - 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.
______. Improvisação para o teatro. 4 ed. São Paulo: Perpectiva, 2005.
SCHAFER, R. Murray. O Ouvido Pensante; trad. Marisa Trench de O. Fonterrada, Magda R. Gomes da Silva, Maria Lucia Pascoal, - São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.
[1] FAVARETTO, Celso. Isto é Arte? Ação Educacional Itaú Cultural, 2000 [vídeo].
Por mais que passássemos pelos mesmos colégios, as dificuldades encontradas nem sempre eram as mesmas. Questões de receptividade e burocracia escolar fizeram parte da nossa estadia enquanto ministrantes das oficinas. O interessante, ao ler os relatórios, é perceber como cada grupo agiu diante dos 'problemas' enfrentados e assim, estar preparados para as situações que vamos encontrar nas escolas, quando tivemos que atuar como Arte-educadores.
ResponderExcluirPor isso o Pibid se torna tão importante, por mais que os professores tentem mostrar alguns caminhos, dar algumas direções nada é tão valido como a nossa própria experiência, pq só se aprende fazer fazendo.
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